Ford Belina 4x4, Brasil
Fotografia
O
desenvolvimento da tração dianteira nas décadas de 60 e 70 aguçou o espírito
criativo dos fabricantes, dando início a uma série de experimentos para
viabilizar uma ideia inédita em veículos de passeio até os anos 80: a tração
4×4, até então pesada, complexa e, por isso, restrita a veículos de grande
porte e militares.
No Brasil, a
pioneira foi a Ford, que em 1984 lançou a Pampa 4×4. No fim do ano, ela
estendeu a opção à Belina, que compartilhava a mesma estrutura: nascia nossa
primeira (e única) perua de tração integral.
Seu
público-alvo eram fazendeiros e habitantes de zonas rurais em busca de um
veículo mais prático, confortável e versátil que picapes grandes e jipes.
Testada em
fevereiro de 1985, mostrou-se um veículo valente, que não temia lama e
aguaceiros. A suspensão reforçada suportava bem os piores caminhos sem
sacrificar o conforto, graças às molas helicoidais na traseira – na Pampa 4×4,
eram semielípticas.
A tração era
simples: no lugar das engrenagens da quinta marcha havia uma caixa de
transferência que acionava a tração traseira. Para isso, bastava puxar a
alavanca ao lado do câmbio.
No asfalto,
ela permanecia desligada: a traseira tinha rodas livres automáticas, já que o
arrasto dos semieixos e do cardã não só causava o desgaste do sistema como
aumentava o consumo. Com relações curtas e sem a quinta, fazia menos de 10 km/l
com álcool na estrada.
Mas bom mesmo
era conduzi-la em seu habitat: sua dirigibilidade no 4×4 era neutra, suavizando
a tendência subesterçante da Belina comum. Bons de terra e chuva, os pneus
Pirelli Cinturato MS desagradavam apenas em piso seco, comprometendo a precisão
da direção e a estabilidade direcional.
A Ford havia
conseguido unir a capacidade offroad às qualidades já conhecidas: ótimo
porta-malas, amplo espaço para quatro pessoas e excelente acabamento, típico da
marca na época. Além dos pneus, ela se diferenciava pelos emblemas e ressaltos
nos cubos de roda, para acomodar a roda livre.
Na edição de
março de 1985, ela foi colocada à prova num percurso de 10 000 km: foi de São
Paulo a Maceió e voltou, encarando lama, canaviais e muita areia. Cruzou o país
com apenas um problema: o ronco no diferencial traseiro, considerado normal
pela rede autorizada.
Infelizmente,
os técnicos estavam errados: integrada à frota de Longa Duração, a Belina 4×4
rodou 50 000 km em 18 meses, quando revelou sua principal fraqueza. O 4×4
funcionou bem até os 10 000 km e dali em diante só deu problema.
Curiosamente,
o defeito do sistema era sua própria simplicidade, já que não havia diferencial
central para compensar a diferença entre os eixos nas curvas.
Como
resultado, o diferencial traseiro foi o primeiro a pular fora: destruído após
os 10 000 km, foi substituído na garantia e quebrou mais algumas vezes até os
22 000 km, quando a revista decidiu não mais fazer uso da tração 4×4. Ao todo,
foram 84 dias de oficina para resolver um problema sem solução.
Para fazer
justiça à Belina 4×4, vale dizer que suas limitações estavam previstas no
manual do proprietário: deveria rodar só em pisos de baixa aderência, em linha
reta e nunca acima dos 60 km/h. O fato é que após o teste de Longa Duração, a
fábrica alterou o manual do proprietário, tornando mais clara a correta
operação da tração 4×4.
Minada a
confiança do consumidor, não restou alternativa à Ford senão encerrar a sua
produção em 1987: o sistema agora era exclusivo da Pampa, que se manteve em
linha até 1995.
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