segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Ford Belina 4x4, Brasil






Ford Belina 4x4, Brasil
Fotografia


O desenvolvimento da tração dianteira nas décadas de 60 e 70 aguçou o espírito criativo dos fabricantes, dando início a uma série de experimentos para viabilizar uma ideia inédita em veículos de passeio até os anos 80: a tração 4×4, até então pesada, complexa e, por isso, restrita a veículos de grande porte e militares.
No Brasil, a pioneira foi a Ford, que em 1984 lançou a Pampa 4×4. No fim do ano, ela estendeu a opção à Belina, que compartilhava a mesma estrutura: nascia nossa primeira (e única) perua de tração integral.
Seu público-alvo eram fazendeiros e habitantes de zonas rurais em busca de um veículo mais prático, confortável e versátil que picapes grandes e jipes.
Testada em fevereiro de 1985, mostrou-se um veículo valente, que não temia lama e aguaceiros. A suspensão reforçada suportava bem os piores caminhos sem sacrificar o conforto, graças às molas helicoidais na traseira – na Pampa 4×4, eram semielípticas.
A tração era simples: no lugar das engrenagens da quinta marcha havia uma caixa de transferência que acionava a tração traseira. Para isso, bastava puxar a alavanca ao lado do câmbio.
No asfalto, ela permanecia desligada: a traseira tinha rodas livres automáticas, já que o arrasto dos semieixos e do cardã não só causava o desgaste do sistema como aumentava o consumo. Com relações curtas e sem a quinta, fazia menos de 10 km/l com álcool na estrada.
Mas bom mesmo era conduzi-la em seu habitat: sua dirigibilidade no 4×4 era neutra, suavizando a tendência subesterçante da Belina comum. Bons de terra e chuva, os pneus Pirelli Cinturato MS desagradavam apenas em piso seco, comprometendo a precisão da direção e a estabilidade direcional.
A Ford havia conseguido unir a capacidade offroad às qualidades já conhecidas: ótimo porta-malas, amplo espaço para quatro pessoas e excelente acabamento, típico da marca na época. Além dos pneus, ela se diferenciava pelos emblemas e ressaltos nos cubos de roda, para acomodar a roda livre.
Na edição de março de 1985, ela foi colocada à prova num percurso de 10 000 km: foi de São Paulo a Maceió e voltou, encarando lama, canaviais e muita areia. Cruzou o país com apenas um problema: o ronco no diferencial traseiro, considerado normal pela rede autorizada.
Infelizmente, os técnicos estavam errados: integrada à frota de Longa Duração, a Belina 4×4 rodou 50 000 km em 18 meses, quando revelou sua principal fraqueza. O 4×4 funcionou bem até os 10 000 km e dali em diante só deu problema.
Curiosamente, o defeito do sistema era sua própria simplicidade, já que não havia diferencial central para compensar a diferença entre os eixos nas curvas.
Como resultado, o diferencial traseiro foi o primeiro a pular fora: destruído após os 10 000 km, foi substituído na garantia e quebrou mais algumas vezes até os 22 000 km, quando a revista decidiu não mais fazer uso da tração 4×4. Ao todo, foram 84 dias de oficina para resolver um problema sem solução.
Para fazer justiça à Belina 4×4, vale dizer que suas limitações estavam previstas no manual do proprietário: deveria rodar só em pisos de baixa aderência, em linha reta e nunca acima dos 60 km/h. O fato é que após o teste de Longa Duração, a fábrica alterou o manual do proprietário, tornando mais clara a correta operação da tração 4×4.
Minada a confiança do consumidor, não restou alternativa à Ford senão encerrar a sua produção em 1987: o sistema agora era exclusivo da Pampa, que se manteve em linha até 1995.

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