Grancar Futura, Brasil
Fotografia
Para um carro
que chegou com seis anos de atraso em relação ao original francês, o nome
Futura poderia soar como ironia. Produzido em São Paulo a partir de 1990 pela
Grancar Design, empresa do projetista Toni Bianco ligada à concessionária Ford
Grancar, o carro era uma cópia da primeira geração da Renault Espace.
Na Europa a
Espace havia chegado em 1984, pouco depois de as minivans da Chrysler
inaugurarem esse segmento. A versatilidade na disposição de assentos da Espace
estava à frente das pioneiras. Antes de criar a versão brasileira de um dos
carros mais imitados do planeta, a Grancar importou uma unidade da van Espace.
Do original,
foi feita uma fôrma para retirar as medidas. Todo o trabalho ficou a cargo de
Bianco e do dono da Ford Grancar, Armando George Neto. Assim como a Renault,
era feita de plástico reforçado com fibra de vidro. “As modificações na
carroceria, o ferramental e o chassi foram desenvolvidos por mim ao longo de um
ano”, afirma Bianco.
Para
viabilizar a produção, todo o trem de força – motor, câmbio, suspensão e eixos
– é da linha Del Rey/Belina. O motor era o de 1,8 litro e 98 cv (o famoso AP
1800, na época compartilhado pela Volks com a Ford), com um câmbio manual de
cinco marchas.
Segundo QUATRO
RODAS, que andou no primeiro protótipo em janeiro de 1991, o conjunto mecânico
se adaptou bem, pois a proposta era rodar com suavidade e silêncio para o
conforto dos passageiros.
No acabamento
interno, mereceu destaque o cuidado na montagem das peças e a escolha dos
materiais. Os bancos dianteiros giravam, formando com os demais uma espécie de
sala de estar. O banco do meio do conjunto intermediário permitia dobrar o
encosto e servia como uma pequena mesa. Todos os assentos podiam ser reclinados
ou retirados, criando um grande espaço para carga.
Boa parte das
peças vinha dos modelos Ford, caso do painel de instrumentos do Del Rey/Belina,
console central e os comandos de ar-condicionado. Os retrovisores e o tanque de
65 litros vêm do Escort.
Em abril de
1990, QUATRO RODAS levou a Futura a Limeira (SP) para as primeiras medições. O
comportamento do carro agradou, mas o motor foi considerado fraco para os 1.300
quilos da van.
“Em situações
extremas de uso, como com carga máxima e em estradas com longas subidas, falta
um pouco de força ao motor, ainda que, mesmo assim, o desempenho do modelo seja
melhor que o das costumeiras picapes transformadas em vans, que até então
reinavam sozinhas nessa faixa de mercado no país”, diz a reportagem.
Segundo o
projetista, entre 18 e 20 carros eram produzidos por mês.
A Grancar
oferecia a opção de turbinar o motor 1.8. A revista fazia um apelo para que o
motor 2.0 da Volkswagen fosse adotado a fim de suprir a falta de força.
Em setembro de
1991, ano em que a solicitação foi atendida, um comparativo entre a americana
Chevrolet Lumina e a Futura LX mostrou que a minivan nacional tinha fôlego para
o duelo. Equipada com o VW 2000 cm3 com carburador e potência de 116 cv, ela
encarou o V6 de 3.100 cm3, com injeção eletrônica monoponto, que gerava 122 cv.
Durante os
testes, a Futura cravou máxima de 148 km/h, ante 151 km/h da Lumina. No 0 a 100
km/h, a Futura fez a marca de 15,01 segundos, contra 14,93 da Chevrolet. Se a
Lumina ganhava em desempenho e conforto, a Futura LX atacava com aproveitamento
de espaço.
Foi esse o
motivo pelo qual o técnico em eletrônica santista Afrânio da Silva Ferreira
optou pela Futura aqui apresentada. “Como tenho 1,80 metro de altura, ela caiu
como uma luva. Fico confortável, até parece um navio de cruzeiro, tamanha é a
maciez da suspensão”, diz.
Ao todo, foram
feitas 159 unidades. A Futura de Ferreira é a unidade 86, como comprova a
plaqueta de identificação. Devido à concorrência com os importados, a Futura
foi produzida até o fim de 1991. Ironicamente, oito anos depois, a Renault
voltou ao Brasil com outra minivan, a Scénic.
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