segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Grancar Futura, Brasil




Grancar Futura, Brasil
Fotografia


Para um carro que chegou com seis anos de atraso em relação ao original francês, o nome Futura poderia soar como ironia. Produzido em São Paulo a partir de 1990 pela Grancar Design, empresa do projetista Toni Bianco ligada à concessionária Ford Grancar, o carro era uma cópia da primeira geração da Renault Espace.
Na Europa a Espace havia chegado em 1984, pouco depois de as minivans da Chrysler inaugurarem esse segmento. A versatilidade na disposição de assentos da Espace estava à frente das pioneiras. Antes de criar a versão brasileira de um dos carros mais imitados do planeta, a Grancar importou uma unidade da van Espace.
Do original, foi feita uma fôrma para retirar as medidas. Todo o trabalho ficou a cargo de Bianco e do dono da Ford Grancar, Armando George Neto. Assim como a Renault, era feita de plástico reforçado com fibra de vidro. “As modificações na carroceria, o ferramental e o chassi foram desenvolvidos por mim ao longo de um ano”, afirma Bianco.
Para viabilizar a produção, todo o trem de força – motor, câmbio, suspensão e eixos – é da linha Del Rey/Belina. O motor era o de 1,8 litro e 98 cv (o famoso AP 1800, na época compartilhado pela Volks com a Ford), com um câmbio manual de cinco marchas.
Segundo QUATRO RODAS, que andou no primeiro protótipo em janeiro de 1991, o conjunto mecânico se adaptou bem, pois a proposta era rodar com suavidade e silêncio para o conforto dos passageiros.
No acabamento interno, mereceu destaque o cuidado na montagem das peças e a escolha dos materiais. Os bancos dianteiros giravam, formando com os demais uma espécie de sala de estar. O banco do meio do conjunto intermediário permitia dobrar o encosto e servia como uma pequena mesa. Todos os assentos podiam ser reclinados ou retirados, criando um grande espaço para carga.
Boa parte das peças vinha dos modelos Ford, caso do painel de instrumentos do Del Rey/Belina, console central e os comandos de ar-condicionado. Os retrovisores e o tanque de 65 litros vêm do Escort.
Em abril de 1990, QUATRO RODAS levou a Futura a Limeira (SP) para as primeiras medições. O comportamento do carro agradou, mas o motor foi considerado fraco para os 1.300 quilos da van.
“Em situações extremas de uso, como com carga máxima e em estradas com longas subidas, falta um pouco de força ao motor, ainda que, mesmo assim, o desempenho do modelo seja melhor que o das costumeiras picapes transformadas em vans, que até então reinavam sozinhas nessa faixa de mercado no país”, diz a reportagem.
Segundo o projetista, entre 18 e 20 carros eram produzidos por mês.
A Grancar oferecia a opção de turbinar o motor 1.8. A revista fazia um apelo para que o motor 2.0 da Volkswagen fosse adotado a fim de suprir a falta de força.
Em setembro de 1991, ano em que a solicitação foi atendida, um comparativo entre a americana Chevrolet Lumina e a Futura LX mostrou que a minivan nacional tinha fôlego para o duelo. Equipada com o VW 2000 cm3 com carburador e potência de 116 cv, ela encarou o V6 de 3.100 cm3, com injeção eletrônica monoponto, que gerava 122 cv.
Durante os testes, a Futura cravou máxima de 148 km/h, ante 151 km/h da Lumina. No 0 a 100 km/h, a Futura fez a marca de 15,01 segundos, contra 14,93 da Chevrolet. Se a Lumina ganhava em desempenho e conforto, a Futura LX atacava com aproveitamento de espaço.
Foi esse o motivo pelo qual o técnico em eletrônica santista Afrânio da Silva Ferreira optou pela Futura aqui apresentada. “Como tenho 1,80 metro de altura, ela caiu como uma luva. Fico confortável, até parece um navio de cruzeiro, tamanha é a maciez da suspensão”, diz.
Ao todo, foram feitas 159 unidades. A Futura de Ferreira é a unidade 86, como comprova a plaqueta de identificação. Devido à concorrência com os importados, a Futura foi produzida até o fim de 1991. Ironicamente, oito anos depois, a Renault voltou ao Brasil com outra minivan, a Scénic.

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