FNM JK 2000, Brasil
Fotografia
No feriado de
21 de abril, dia de Tiradentes, não faltou assunto no almoço de família. Corria
o ano de 1960 e, além da inauguração de Brasília, festejava-se o lançamento do
JK, o mais moderno carro nacional da época.
Era produzido
pela FNM (dizia-se Fenemê, iniciais de Fábrica Nacional de Motores), uma
estatal que fabricava caminhões e que havia comprado o ferramental e a licença
para produzir o Alfa Romeo 2000.
Seu nome era
uma homenagem ao presidente Juscelino Kubitscheck, o grande entusiasta da
implantação da indústria automobilística brasileira.
A origem do
nosso JK está no Alfa 1900, do início dos anos 50. Depois da Segunda Guerra,
foi o primeiro projeto da fábrica italiana e vendeu muito.
Pensando mais
longe, especificamente no mercado americano, a Alfa apresentou em 1957 o modelo
2000, com frisos, detalhes cromados e até um discreto rabo-de-peixe.
Deu tudo
errado: para o povo que estava acostumado com carrões silenciosos e suspensão
macia, ele era áspero e ficava devendo em conforto. Até em casa foi rejeitado.
Os europeus o acharam muito enfeitado.
Mas para nós,
brasileiros, naqueles tempos, ele era bom demais. É certo que não custava
nenhuma pechincha.
Eram
necessários mais de 150 salários mínimos da época para comprar um carro
zerinho. Ou o equivalente a R$ 161.211 em valores de março de 2018.
Mesmo exibindo
o enorme cuore sportivo (marca registrada dos Alfa Romeo), com um escudo
adaptado da FNM na grade, não chegava a ter o desempenho de um autêntico
esportivo.
Mas a
tecnologia sobrava: câmbio de cinco marchas (uma novidade até então – e durante
um bom tempo – entre os nacionais), duplo comando de válvulas no cabeçote,
bloco do motor de alumínio e pneus radiais.
O painel
encantava com seu velocímetro sem ponteiro: a velocidade era indicada por uma
fita vermelha que corria pelo mostrador.
Ah, e o banco
dianteiro inteiriço? Reclinado, praticamente virava uma cama de casal. Bons
tempos de namoro a bordo.
Nas pistas, o
JK já chegou apavorando e venceu provas de longa duração como as 1000 Milhas e
24 Horas de Interlagos, nas mãos de Chico Landi, Christian Heinz, o Bino, e
Piero Gancia.
Foi assim até
que houve o golpe militar em 1964. Como Juscelino e outros tantos que tiveram
seus direitos políticos cassados, o JK também teve problemas. Precisou mudar de
nome e passou a ser o FNM 2000.
Uma versão
mais potente, lançada no Salão do Automóvel de 1964, teve o nome “Jango”, em
homenagem ao ex-presidente João Goulart, cogitado. Mas saiu como “TIMB”,
abreviação de Turismo Internacional Modelo Brasileiro.
O JK é
bastante estável. Mais do que pedem os 95 cavalos do motor. Afinal, ao
tracionar os 1.360 quilos do carro, não podem fazer milagre.
No teste de
QUATRO RODAS (edição de junho de 1968), o JK fez de 0 a 100 km/h em 19 segundos
e atingiu a velocidade máxima de 157 km/h.
O modelo que
você vê na foto é um FNM 2000 1968, andando que é uma beleza. A direção, mesmo
sem assistência hidráulica, não é pesada. É precisa, sem folgas. A embreagem,
hidráulica, é leve, e o câmbio tem acionamento na coluna.
Os freios,
porém, nunca foram o seu forte. Exigem decisão e vontade.
Sua tecnologia
cobrava o preço do pioneirismo por aqui. O duplo comando de válvulas, por
exemplo, era uma caixa-preta para a maioria dos mecânicos locais. E a parte
elétrica tirava o sono de muitos proprietários.
Reestilizado
em 1969, seu motor passou a ter 2.150 cilindradas. Foi produzido até 1973,
quando a fábrica foi vendida para a Alfa Romeo.
Fim de um
ciclo, começo de um novo: começava a ser produzido aqui o Alfa 2300, com o
mesmo espírito: ares esportivos, com luxo e conforto.
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