quarta-feira, 25 de setembro de 2019

FNM JK 2000, Brasil





FNM JK 2000, Brasil
Fotografia


No feriado de 21 de abril, dia de Tiradentes, não faltou assunto no almoço de família. Corria o ano de 1960 e, além da inauguração de Brasília, festejava-se o lançamento do JK, o mais moderno carro nacional da época.
Era produzido pela FNM (dizia-se Fenemê, iniciais de Fábrica Nacional de Motores), uma estatal que fabricava caminhões e que havia comprado o ferramental e a licença para produzir o Alfa Romeo 2000.
Seu nome era uma homenagem ao presidente Juscelino Kubitscheck, o grande entusiasta da implantação da indústria automobilística brasileira.
A origem do nosso JK está no Alfa 1900, do início dos anos 50. Depois da Segunda Guerra, foi o primeiro projeto da fábrica italiana e vendeu muito.
Pensando mais longe, especificamente no mercado americano, a Alfa apresentou em 1957 o modelo 2000, com frisos, detalhes cromados e até um discreto rabo-de-peixe.
Deu tudo errado: para o povo que estava acostumado com carrões silenciosos e suspensão macia, ele era áspero e ficava devendo em conforto. Até em casa foi rejeitado. Os europeus o acharam muito enfeitado.
Mas para nós, brasileiros, naqueles tempos, ele era bom demais. É certo que não custava nenhuma pechincha.
Eram necessários mais de 150 salários mínimos da época para comprar um carro zerinho. Ou o equivalente a R$ 161.211 em valores de março de 2018.
Mesmo exibindo o enorme cuore sportivo (marca registrada dos Alfa Romeo), com um escudo adaptado da FNM na grade, não chegava a ter o desempenho de um autêntico esportivo.
Mas a tecnologia sobrava: câmbio de cinco marchas (uma novidade até então – e durante um bom tempo – entre os nacionais), duplo comando de válvulas no cabeçote, bloco do motor de alumínio e pneus radiais.
O painel encantava com seu velocímetro sem ponteiro: a velocidade era indicada por uma fita vermelha que corria pelo mostrador.
Ah, e o banco dianteiro inteiriço? Reclinado, praticamente virava uma cama de casal. Bons tempos de namoro a bordo.
Nas pistas, o JK já chegou apavorando e venceu provas de longa duração como as 1000 Milhas e 24 Horas de Interlagos, nas mãos de Chico Landi, Christian Heinz, o Bino, e Piero Gancia.
Foi assim até que houve o golpe militar em 1964. Como Juscelino e outros tantos que tiveram seus direitos políticos cassados, o JK também teve problemas. Precisou mudar de nome e passou a ser o FNM 2000.
Uma versão mais potente, lançada no Salão do Automóvel de 1964, teve o nome “Jango”, em homenagem ao ex-presidente João Goulart, cogitado. Mas saiu como “TIMB”, abreviação de Turismo Internacional Modelo Brasileiro.
O JK é bastante estável. Mais do que pedem os 95 cavalos do motor. Afinal, ao tracionar os 1.360 quilos do carro, não podem fazer milagre.
No teste de QUATRO RODAS (edição de junho de 1968), o JK fez de 0 a 100 km/h em 19 segundos e atingiu a velocidade máxima de 157 km/h.
O modelo que você vê na foto é um FNM 2000 1968, andando que é uma beleza. A direção, mesmo sem assistência hidráulica, não é pesada. É precisa, sem folgas. A embreagem, hidráulica, é leve, e o câmbio tem acionamento na coluna.
Os freios, porém, nunca foram o seu forte. Exigem decisão e vontade.
Sua tecnologia cobrava o preço do pioneirismo por aqui. O duplo comando de válvulas, por exemplo, era uma caixa-preta para a maioria dos mecânicos locais. E a parte elétrica tirava o sono de muitos proprietários.
Reestilizado em 1969, seu motor passou a ter 2.150 cilindradas. Foi produzido até 1973, quando a fábrica foi vendida para a Alfa Romeo.
Fim de um ciclo, começo de um novo: começava a ser produzido aqui o Alfa 2300, com o mesmo espírito: ares esportivos, com luxo e conforto.

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