Biscoito Globo, Rio de Janeiro, Brasil
Artigo
O dia da carioca Magali Peixoto começa muito
antes que as praias se encham de gente e as ruas se entupam de carros,
arrebanhando a freguesia que garante seu emprego.
Ela trabalha à sombra de um sucesso popular no Rio de Janeiro. É
empacotadora do biscoito Globo, o preferido das praias e dos engarrafamentos.
Todo dia, sai de casa para o serviço às quatro e meia da manhã, quando o sol
nem deu sinal de que pretende nascer e os vizinhos dormem no Morro da Caixa
d’Água, no subúrbio de Quintino, a terra de Zico. Ela desce a ladeira irregular
na noite fechada. “Daqui a pouco, todo mundo acorda, mas a essa hora sou só eu,
Deus e os cachorros”, diz Magali, incluindo entre os madrugadores os dois
vira-latas dela, Raí e Priscila.
Magali desce o morro com passos firmes. Visto de baixo, o caminho parece
um barranco. De cima, um precipício. Mas, aos 53 anos, Magali sabe de cor onde
pôr os pés. “Precisa me ver descendo isso aqui de salto alto, na chuva”, diz,
oferecendo à interlocutora o próprio braço como balaústre. No horizonte,
brilham os bicos de gás da Refinaria Duque de Caxias. Se já estivesse claro,
ela informa, daria para ver, ao fundo da Baixada Fluminense, o cume do Dedo de Deus,
lá em Teresópolis, a quase 90 quilômetros de distância.
Ao pé do morro, ela toma o trem para a cidade. E, no fim da linha, anda
mais quinze minutos até a rua do Senado, número 273A. São 5h30 e ainda não
amanheceu quando Magali chega à fábrica do Globo, como faz há 35 anos. Na
frente do velho sobrado, os vendedores ambulantes começam a fazer fila, à
espera da mercadoria. Lá dentro, prestes a dar início à epopéia do biscoito,
está um dos donos da empresa. Faz meia hora que o padeiro Francisco Nunes Torrão
aguarda seus onze funcionários para poder dar a largada de uma jornada que,
desdobrada em dois turnos, só se encerrará 150 mil biscoitos mais tarde. Serão
96 fornadas consecutivas que se estenderão até as oito da noite.
Torrão é um dos sócios-fundadores do biscoito Globo. Nasceu em Portugal,
73 anos atrás. Veio para o Brasil em 1954, driblando a convocação para o
serviço militar, num tempo em que o exército salazarista despachava soldados
para as colônias africanas. Ele integra o quarteto que criou a empresa em 1963.
Passados 46 anos, continua madrugando para abrir as portas da fábrica às cinco
em ponto da manhã. Às seis, quando sai a primeira fornada, ele prova um
biscoito ainda quente e – o que é essencial – antes que passe pela estufa,
etapa que o tornará mais crocante. Torrão, ao contrário do mercado, prefere o
Globo assim.
Outros onze empregados revezam-se para desdobrar o expediente por mais
de catorze horas. A maioria tem “um bom tempo” de casa. E ninguém reclama da
rotina. Edmilson da Silva, por exemplo, mantém o ponto da massa há 44 anos.
Para esses detalhes, Torrão não troca por máquina alguma o toque humano. E só
há quatro máquinas à vista nos 460 metros quadrados do prédio centenário, de
paredes altas revestidas, de alto a baixo, com azulejos brancos. A tinta marrom
nas portas está descascando.
O equipamento industrial se resume à misturadora, que vira a massa, à
pingadeira, que molda as roscas, e aos dois fornos, que assam os biscoitos.
“Muita coisa aqui ainda é feita manualmente”, resume Torrão. E isso não é
problema. Depois de analisar o funcionamento da empresa no curso de engenharia
de produção, o estudante Bernardo Cunha de Miranda, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, concluiu que o único gargalo visível nessa linha de produção
está nos fornos, que fazem 164 biscoitos por minuto. Torrão agradeceu a
informação e deixou tudo igual.
As mãos de Magali produzem 2 500 pacotes por dia. Manipulam, em média,
25 mil biscoitos. Quer dizer que arrumam as roscas em fileiras nos sacos de
papel. Fecham sumariamente o invólucro, retorcendo como orelhas as pontas dos
embrulhos. Achatam as embalagens com dois tapinhas anódinos. Cinco vezes por
minuto.
Seus gestos parecem mecânicos. Mas a empresa lubrifica as engrenagens da
produção artesanal com uma política de recursos humanos que, há décadas,
promove o bom humor da turma na cozinha abafada por fornos ligados a 230 graus.
Repete-se, na política pessoal, a fórmula do biscoito: nunca mudar o que uma
vez deu certo. A firma paga salários acima do mercado – de 300 a 500
reais por semana, de acordo com o faturamento da temporada – e sempre em
dinheiro vivo. Não fala em demissões, reengenharia, reestruturação, downsizing e outras firulas da
moderna administração de empresas. Na hora de contratar, aposta no bom e velho
compadrio, preferindo parentes e amigos de funcionários antigos.
Magali é exceção. Entrou pela cota do acaso. Numa tarde de sol em 1973,
comprou um pacote de Globo doce na praia do Flamengo, e aproveitou para
perguntar se a fábrica não estaria precisando de alguém como ela. O vendedor
palpitou que sim, porque o movimento era grande. Ela passou por lá no dia
seguinte e pegou uma vaga.
Pela informalidade, o biscoito Globo não
poderia parecer mais carioca. Mas ele é paulista. Nasceu em 1953, produto do
fim de um casamento. Milton, Jaime e João Ponce Fernandes são irmãos cujos pais
se desquitaram. A ter que escolher entre morar com a mãe ou com o pai, os três
acharam mais fácil se mudar para os fundos da padaria de um tio, na rua
Cipriano Barata, perto do Museu do Ipiranga, em São Paulo. Lá, aprenderam a
fazer biscoito de polvilho. E nunca mudaram a receita.
O biscoito Globo chegou ao Rio em 1955. Veio para o 36º Congresso
Eucarístico Internacional, que levaria multidões ao Aterro do Flamengo, ainda
em fase de terraplenagem. A peregrinação religiosa foi, para o biscoito, uma
epifania. Pela primeira vez, ele se encontrou com o povo aglomerado e descobriu
que havia nascido para isso. Os irmãos Fernandes, depois do Congresso, acharam
que era hora de transferir sua base de operações para uma padaria na rua São
Clemente, em Botafogo.
Começaram como empregados. Do balcão, vendiam aos fregueses da casa a
exclusividade que haviam trazido de São Paulo. Em pouco tempo, passaram a
fornecê-la a outras padarias. Em menos de uma década, tinham clientela
suficiente para inaugurar, com Francisco Torrão, a Panificação Mandarino Ltda.
Como tudo na história do biscoito, a sociedade foi para sempre. “Nós quatro já
nos separamos de nossas mulheres, mas não nos separamos uns dos outros”, diz
Milton Fernandes.
Estava surgindo a era global no Rio de Janeiro. O Globo, jornal quase quarentão,
preparava-se para pôr no ar o sinal de sua tevê, emprestando acidentalmente ao
polvilho homônimo os índices de popularidade que, hoje, o professor de
marketing Daniel Kamlot considera um trunfo do biscoito. Nem a geléia de mocotó
Imbasa, lançada pelos proprietários das Organizações Globo, teve tanta sorte.
E, sem sorte, ensina Milton Fernandes, “a gente nem atravessa a rua”.
O Globo versão polvilho chegou aos 56 anos sem gastar com propaganda.
Seus donos estão cansados de rebarbar propostas de franquias, currículos de
executivos e planos de expansão. A marca, com seu traço inconfundível de
desenho colegial, foi estampada em cangas, biquínis, bermudas, bolsas, saias e
até luminárias, sem que os proprietários sequer pensassem em licenciá-la. Os
designers vão à rua do Senado, recebem o mesmo sorriso que acolhe os camelôs,
mas, fora um ou outro agradecimento sincero pela publicidade gratuita, saem de mãos
abanando. Que fiquem à vontade para usar a imagem como quiserem, mas
exclusividade nem pensar.
Milton Fernandes admite que nem lê esses projetos. “Em biscoito que está
ganhando não se mexe”, ensina. A fábrica só tem um ponto de distribuição – a
porta do sobrado. É lá que o produto vai parar onde os fregueses estiverem, nas
costas dos ambulantes. Essa rede de varejo maleável e autônoma não custa um
centavo aos cofres da empresa. Tampouco há o menor gasto para se colocar na rua
o responsável pela “melhor propaganda do mundo, aquele que trabalha doze horas
por dia, não tira férias e, ainda por cima, não cobra nada”. Ou seja, o sol.
Camelô e sol são o que o Rio de Janeiro tem de sobra. Os biscoitos Globo estão
ancorados numa parceria imbatível. Trata-se de um business model mais sólido do que o de muitas instituições
financeiras americanas.
A empresa funciona sem o que se possa chamar, tecnicamente, de estrutura
administrativa. Os sócios repartem entre si todas as tarefas que sobram da
cozinha. Atendem o telefone, que não pára de tocar; os vendedores, que não
param de chegar; e os funcionários, que sob sua vigilância não param de
trabalhar. Comandam o negócio entre paredes decoradas com recortes de
reportagens sobre o biscoito. Recebem os ambulantes, um a um. Entregam a
mercadoria mediante pagamento à vista, em dinheiro. O caixa é uma gaveta de
madeira, que desafia as estatísticas de insegurança pública da cidade. O
bebedouro fica na entrada. Posição estratégica, pois se estivesse do lado de
dentro, os donos, além de suas tarefas, acumulariam o trabalho de servir água
pessoalmente aos camelôs, invariavelmente assolados pela sede crônica de quem
ganha a vida ao sol.
De quebra, a firma despacha biscoitos a granel, sem embalagem nem
rótulo, para padarias da Zona Sul. Duas vezes por semana Francisco José
Lourenço Torrão, filho do fundador, entrega essas encomendas, a 8 reais o
quilo, revendido a 20 reais. Cantinas de escolas particulares compram
diretamente 3 mil unidades por dia. No caso, em embalagens de plástico. A
tradicional, de papel, só circula ao ar livre, onde o produto pode suar
discretamente, sem manchar de gordura a embalagem. No papel, os biscoitos ficam
fresquinhos por cinco dias e, no plástico, chegam a durar um mês.
Ao todo, saem de 10 a 15 mil pacotes de biscoitos por dia. Valem 5 mil,
no mínimo, a preço de fábrica. Mas o faturamento é segredo da casa. “Dá para os
quatro sócios e seus filhos viverem bem”, é tudo o que Milton Fernandes revela.
O que não tem mistério é o biscoito em si, assunto que deixa o empresário
loquaz: “Todos os biscoitos de polvilho são iguais. O que muda é a quantidade
de leite e ovos que enriquecem a massa, e a qualidade do polvilho azedo. Claro
que isso encarece a produção.”
Os polvilhos usados no Globo são o Ourense e o Orivaldo, marcas mineiras
de Conceição dos Ouros, cidadezinha localizada numa região dedicada ao cultivo
da mandioca, que é a base do polvilho ou fécula de mandioca. O controle de
qualidade consiste em visitar os fornecedores pelo menos duas vezes por ano,
para verificar in loco se
o polvilho continua o mesmo. A fábrica tem peso na economia local e, uma vez
por semana, recebe de lá um caminhão de farinha.
É esse polvilho azedo, e não o que se faz com ele, a maior diferença
entre o Globo e o Extra, seu concorrente mais explícito, que usa ingredientes
comuns. O Extra entrou na disputa de um lugar sob os sinais de trânsito no
longínquo ano de 1969. Chamava-se Sortilégio. Mudou de nome na década passada,
quando a editora do jornal O
Globo lançou o Extra,
um diário popular e barato. Basílio Soares, dono da Sortilégio e ex-cunhado de
Milton Fernandes, enxergou na novidade sua chance de espelhar o império da
comunicação no reino do biscoito de rua. E assim o mercado se manteve mais ou
menos “em família”, dizem os Fernandes. Seus verdadeiros rivais são as pipocas
doces de embalagem rosa-choque, as batatas fritas e os amendoins torrados.
Com Extra ou sem Extra, a misturadora do Globo leva os mesmos 50 quilos
de polvilho azedo, 3 de sal Do Norte ou 4 de açúcar Guarani, adicionados aos
16,4 litros de gordura hidrogenada e 5 litros de leite Longa Vida, além de 25
ovos e um pouco de água fria. Em quinze minutos, a massa está pronta para a
pingadeira. Com mais quinze, sai do forno, sob o olho atento dos funcionários,
para evitar que o biscoito fique bronzeado demais. Supõe-se que as roscas um
tanto pálidas façam mais sucesso na praia.
O dia passa depressa no sobrado. Às dez horas,
os pacotes já foram à luta com os ambulantes, que desde cedo garantiram senhas
de atendimento, por ordem de chegada. Roberto dos Santos faz o horário das
sete, quando Magali já fez 300 pacotes em tamanhos compatíveis com o bolso ralo
do varejo informal. O pacote de 50 sacos sai por 25 reais, o de 40, por 20
reais e o de 25, por 12,50. “Me vê um 50 com 15”, diz Roberto. Nem precisa
esclarecer que com isso quer dizer um pacote de 50 sacos, sendo quinze de
biscoitos doces. Os salgados têm mais saída, exceto entre as crianças.
Roberto tem 53 anos. Há dez, trabalha em Ipanema, com prerrogativas de
comerciante estabelecido. Troca de roupa no Posto de Salvamento. Veste o
uniforme laranja do Matte Leão, inseparável companheiro de areia do biscoito
Globo. Fica descalço, porque os chinelos podem jogar areia nos fregueses.
Conhecido como “Negão”, espalha protetor solar Sundown fator 30 na pele.
“Senão, fico azul.”
Deixa a mochila com o mesmo barraqueiro que guarda seu isopor com Matte
Leão, Guaraviton, água com ou sem gás, H20, Coca-Cola, guaraná e cerveja. “A
bebida é para puxar a venda, o biscoito é que dá lucro maior – sem ele não
dá para trabalhar não”, ensina o ambulante. Cobra pelo Globo na praia o triplo
do que paga na rua do Senado.
Em dias úteis, ele ganha em média 30 reais. Em domingos e feriados, 60.
No verão, tira mais de 100 reais por dia, porque “anoitece mais tarde, temos
mais tempo para vender”. Se o tempo vira, muda automaticamente de ramo e passa
a oferecer a 10 reais, nas calçadas do bairro, os guarda-chuvas que compra por
2,70 na estação de trem Central do Brasil. Não troca essa vida pelo tempo em
que tinha “um bando de chefe me mandando, horário para cumprir e contracheque
pequeno”.
Conhece os ossos do ofício. Praia só vale a pena depois das dez. Se
enche de turistas, o movimento piora, porque “gringo não compra o biscoito;
eles trazem sanduíches esquisitos, cheios de carne dentro”. Referia-se, no caso,
a franceses que partilhavam uma baguete com presunto de Parma. Na altura da rua
Farme de Amoedo, que marca o território gay de Ipanema, comenta: “Isso aqui no
Carnaval é um bloco, precisa ver.” Por critérios misteriosos, os ambulantes
dividem a areia em lado esquerdo e direito. O esquerdo é ruim. Tem sempre um
lado esquerdo, mas só os ambulantes sabem identificá-lo. Roberto diz que “só
carioca compra o Globo”. Mas nem por isso deixa de mostrar aos forasteiros as
torres que, estampadas no rótulo, ilustram a precoce candidatura do biscoito ao
mercado globalizado.
O que atualmente se chama de “identidade visual” do biscoito Globo foi
obra do padeiro Alfredo Simões Nobre, da Padaria Globo. O símbolo do produto é
o corpo esquemático do boneco que encarna os críticos de cinema do jornal O Globo, o tal “Bonequinho Viu”.
A Torre de Belém entrou no desenho como homenagem do português Nobre a Lisboa.
A torre Eiffel, a de Pisa e o Pão de Açúcar ilustram o slogan “Biscoito Globo,
todo mundo come”, que, de resto, não está impresso em lugar nenhum. Como todos
os slogans, este também deve ser lido com certa desconfiança. Nem todo mundo
come. Desde que se aclimatou ao Rio, o biscoito só atravessou as fronteiras da
cidade há poucos anos. E assim mesmo para cruzar a baía de Guanabara e tentar a
conquista de Niterói. Os donos não têm o menor interesse em ganhar o mundo.
O verde e o vermelho que colorem suas embalagens eram, em princípio,
estritamente funcionais. Distinguiam o saco doce do salgado numa época em que
se supunha que os ambulantes fossem analfabetos. Permanecem por respeito à
tradição. “Tosco” e “genial”, resume o designer João Bonelli, diante da figura
com o globo terrestre no lugar da cabeça. O especialista em branding Fred Gelli diz que se
trata de “um clássico”, enroscado na memória afetiva dos cariocas há duas ou
três gerações.
Como tem gosto vago e consistência evanescente, cada freguês pode sentir
o que quiser, enquanto o biscoito se desmancha na boca. Inteiro, pesa 3 gramas
e contém 12 calorias. Vem cheio de ar. Na memória, senão no paladar, lembra
calor, estádio cheio e mate de barril. É impróprio para comer dentro de um
carro, porque esfarela caindo no estofamento. Mas aparece antes do guarda,
quando o trânsito pára. Os motoristas cariocas sabem que um engarrafamento é
sério não só pelo número de carros parados, mas também pela quantidade de
vendedores de biscoitos Globo na calçada.
Às duas da tarde, depois de andar 8
quilômetros na areia fofa e quente, vender onze pacotes de biscoito, três copos
de mate, duas Coca-Colas, um guaraná, três cervejas, uma garrafa de H20 e outra
de água com gás, Roberto pega sua marmita na barraca, escolhe a sombra de um
coqueiro e senta para almoçar: macarrão, frango e quiabo. É a hora em que
Magali sai da fábrica e volta de ônibus para o Morro da Caixa d’Água, com medo
de que os outros passageiros a vejam “dormindo de boca aberta”, e o ambulante
Artur Chamarelli Junior, de 39 anos, começa o dia.
Chamarelli mora ao lado do cemitério do Caju, atrás da avenida Brasil.
Faz ponto no meio da avenida Perimetral, caminhando quarenta minutos, viaduto
acima. Não há acessos para pedestres na Perimetral. Sem acostamento, os camelôs
costeiam as pistas e disputam o meio-fio na beira do asfalto, toureando as
motocicletas que passam de fininho. Os atropelamentos são frequentes ali.
O vendedor cumprimenta os colegas como se estivesse chegando à
repartição. São dez camelôs, em fila indiana, espremendo-se contra a mureta.
Todos à espera do engarrafamento que parece inevitável. Muitos ficam no alto
das favelas, olhando para baixo. Está aí resolvido o mistério de por que os
vendedores de biscoito Globo chegam antes nos engarrafamentos. Ao identificar
os primeiros gargalos, descem correndo, mercadoria na mão. A Perimetral, como a
Linha Vermelha, a Praça da Bandeira, a rampa do túnel Rebouças e outros nós
previsíveis do sistema viário têm hora certa para encrencar. E é sempre no
engarrafamento das seis que um estudante de história da Universidade Federal
Fluminense compra biscoitos Globo todo dia: “É bem na hora do lanche, só saio
da faculdade às dez.”
Ultimamente, a operação Choque de Ordem da prefeitura preocupa a rede de
ambulantes, ameaçando suas guildas com um cadastramento capaz de desarrumar um
negócio regido pela informalidade, mas com o rigor de uma junta comercial. Ali
os preços são fixos. Ninguém faz dumping. E
não se pega um bom ponto sem ter padrinho à altura. “Desconhecido, a gente bota
para correr”, diz Chamarelli.
Ele está habituado a ouvir o estalo das portas travando, quando se
aproxima de um carro. Mas afirma que, em ponto de camelô, assaltante não tem
vez. E ele trabalha noite adentro. Aliás, se depender de cariocas como Magali e
Chamarelli, o dia do biscoito Globo nunca tem hora para acabar.
Nota do blog: Provei quando estive no Rio de Janeiro e, pessoalmente, não achei grande coisa, acho que é superestimado, mais um daqueles produtos que os locais defendem com unhas e dentes, não pelo sabor, mas pelo que representam em termos de nostalgia e tradição.
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