Dodge Dart 1970, Brasil
Fotografia
O Dodge Dart
mostra na lata uma diferença cultural entre americanos e brasileiros. Natural
de Detroit, seu nome já havia sido usado como um dos Dodge grandes de 1960 a
1962, um ano antes de identificar o “compacto” da marca. Um compacto, diga-se,
com 282 cm de entre-eixos e 498 cm de comprimento.
Para um
mercado acostumado a carros do porte do nosso Ford Galaxie, até que eram
medidas nada exuberantes. O Dart nacional equivalia à linha 1969 desse
“compacto” americano, mas por aqui era visto como carro grande. Enquanto lá
fora, dentre as opções disponíveis, havia o motor de seis cilindros em linha e
a carroceria conversível, nosso mercado jamais veria essas versões.
No Brasil, a
Simca havia sido adquirida pela Chrysler, dona da marca Dodge. Sucessor do
Chambord, o Esplanada saiu do Salão do Automóvel de 1966 para receber 53
modificações em Detroit. Foi um produto de vida curta, pois já em 1970 ele deu
lugar ao primeiro Dodge nacional legítimo, o sedã Dart.
Antes do
lançamento, a edição de outubro de 1969 de QUATRO RODAS publicou suas
impressões ao dirigir. Com o velocímetro indicando 180 km/h, “pode-se soltar o
volante, que a trajetória do veículo permanece inalterada”, dizia a reportagem.
E concluía: “O Dodge Dart brasileiro emociona”. Duas edições depois, o modelo
finalmente seria testado.
Expedito
Marazzi notava que a posição ao volante incomodava em viagens, pelo pouco
recuo, pela inclinação do banco e pelos pedais altos. Outras críticas iam para
embaçamento nos vidros, instrumentos de leitura difícil, falhas na vedação,
dificuldade de fazer o carro dar sua ruidosa partida, engates difíceis e
trepidação do capô em velocidade.
Se equilibrava
bem o carro, a rigidez da suspensão ficava a dever no conforto. A autonomia do
tanque de 62 litros, reduzida a até 240 km, fazia perder no posto o tempo ganho
na estrada.
A firmeza da
carroceria era ponto positivo, bem como a temperatura estável do vigoroso
motor. Apesar de o carburador se abrir em etapas, o que fazia o carro saltar na
rotação de mais torque, era “agradabilíssimo calcar o acelerador e sentir o
Dart arrancar, com os pneus cantando no asfalto”, disse Marazzi.
“Nas subidas,
o Dart continua como se estivesse na horizontal.” A fadiga dos freios a tambor
custava a aparecer, segundo ele, mas incomodaria colegas em testes posteriores.
O pedal era macio e sua eficiência, satisfatória.
Há cerca de 18
anos, o exemplar 1970 das fotos passou para as mãos de um empresário paulista,
atual dono do carro. O carro só precisou de um banho de tinta. “Esse é o Dodge
mais puro e cru que há, sem direção hidráulica, freio assistido ou barra
estabilizadora”, afirma o colecionador.
Para 1971 a
Dodge lançou o Dart cupê,
que em seu teste de outubro de 1970 alcançou até 181,81 km/h e se tornou o
nacional mais veloz a passar pelo crivo da revista. Dois meses depois, a
honraria foi assumida pelo irmão Charger R/T,
com taxa de compressão mais alta e 215 cv.
Direção
hidráulica passou a ser opcional naquele ano. Logo em seguida, o catálogo
ganhou o reforço do câmbio automático Torqueflite de três velocidades. Somados
ao ar-condicionado opcional, eram itens que ajudaram a fazer do Dart uma
referência em conforto, ainda que o acabamento não fosse primoroso.
Em 1972, freios
dianteiros a disco entraram para a lista de opcionais. Subdividida em várias
versões, a linha 1973 trouxe frente e traseira novas e acabamento melhor.
Nesse ano a
crise do petróleo transformou os motores V8 em verdadeiros vampiros sorvedores
de combustível e de dinheiro. Ícone de um tempo de opulência, o Dart ainda foi
remodelado mais profundamente para 1979, três anos depois de ser aposentado nos
Estados Unidos. O Le Baron era o sedã topo-de-linha.
A Volkswagen
assumiria o comando da marca no país naquele ano. Penúltimo carro nacional de
passeio de projeto americano – o Ford Maverick é mais recente e o Galaxie durou
mais –, o Dart sairia de cena em 1981, junto com a Dodge brasileira, depois de
vender 72.666 exemplares.
Se os tempos
já eram outros, nem na América ele seria considerado um compacto hoje. Mas,
para os padrões brasileiros, mesmo em 2009 seu conjunto semelhante ao do atual
Chrysler 300C faria dele uma referência de luxo e vigor.
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