Farus ML 929, Brasil
Fotografia
O Fusca serviu
de base à maioria das criações brasileiras. De bugues de fundo de quintal a
projetos consagrados, como Puma, MP Lafer e Miura, que aproveitaram sua
estrutura e mecânica. Mas nem todos beberam nessa fonte: o ML 929 foi um deles.
A inauguração da filial brasileira da Fiat, em 1976, foi decisiva para o
desenvolvimento da Farus – criadora de um dos mais interessantes fora de série
nacionais.
O nome é um
acrônimo de “Família Russo”, empreendimento fundado em 1978 por Alfio e
Giuseppe Russo (pai e filho), em Belo Horizonte. O batismo do modelo foi uma
homenagem à matriarca Maria Luiza Russo, nascida em 1929. Ao não usar os
componentes do conhecido Volkswagen, a empresa evitou a dependência da
montadora alemã. Um chassi próprio era uma solução muito mais cara. Porém,
permitiu um nível de refinamento incomum.
A Farus
contratou dois engenheiros: o russo Arcadiy Zinoviev (então um egresso da
equipe March de F-1) e o brasileiro Jose Carlos Giovanini (vindo da Fiat, em
Betim) para cuidar do projeto. O chassi tinha soldas bem feitas e geometria de
suspensão e de direção esmeradas – com clara inspiração nos Lotus, de Colin
Chapman. A espinha dorsal era formada por chapas de aço dobradas e
soldadas, formando um duplo “Y”. As pontas do chassi serviam como apoio da
suspensão McPherson (vinda do Fiat 147) nas quatro rodas. Outra primazia era o
motor transversal entre os eixos: solução adotada por esportivos, como o Fiat
X1/9.
O estilo,
porém, não era unanimidade. Faltava harmonia em alguns detalhes, como o teto,
reto demais, e o acabamento insuficiente. A carroceria de fibra de vidro
adotava o estilo em cunha criado por Marcello Gandini (designer da Ferrari 308
GT4) e Giorgetto Giugiaro (responsável pelo Lotus Esprit), ocultando
refinamento técnico da parte mecânica.
O trem de
força também vinha do Fiat: apresentado na versão esportiva Rallye, o motor de
1,3 litro e 72 cv era um projeto de Aurelio Lampredi, engenheiro de motores
vindo da Ferrari e diretor técnico da equipe Abarth. O quatro cilindros subia
rapidamente de giro e tinha um eficiente sistema de refrigeração. Apesar das
falhas no acabamento, o interior era confortável para duas pessoas e oferecia
bom isolamento acústico, sobretudo pela localização do motor. E vinha com
vidros elétricos, que nem sempre funcionavam.
A direção e a
tração traseira casavam com o equilíbrio proporcionado pelo motor central: o
baixo centro de gravidade e a suspensão firme permitiam explorar o motor a
fundo, com um comportamento dinâmico superior ao do Puma GTE e Miura. Em
números absolutos, porém, ele deixava a desejar: o peso de 932 kg era muito
superior aos 750 kg declarados, de tal forma que seu desempenho era apenas
ligeiramente superior ao do 147 Rallye. A busca por maior performance levou o
fabricante a apresentar o modelo TS no Salão do Automóvel de 1981, com mecânica
VW refrigerada a água (do Passat TS).
A produção do
ML 929 se estendeu até 1984. A Farus atendeu ao mercado interno e chegou a
exportar algumas unidades para o Japão, África do Sul, Alemanha e até Estados
Unidos. No entanto, encerrou suas atividades em 1991, logo após a abertura das
importações promovida pelo governo Collor, deixando um legado de 1.200 veículos
produzidos.
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