sábado, 21 de setembro de 2019

Farus ML 929, Brasil






Farus ML 929, Brasil
Fotografia


O Fusca serviu de base à maioria das criações brasileiras. De bugues de fundo de quintal a projetos consagrados, como Puma, MP Lafer e Miura, que aproveitaram sua estrutura e mecânica. Mas nem todos beberam nessa fonte: o ML 929 foi um deles. A inauguração da filial brasileira da Fiat, em 1976, foi decisiva para o desenvolvimento da Farus – criadora de um dos mais interessantes fora de série nacionais.
O nome é um acrônimo de “Família Russo”, empreendimento fundado em 1978 por Alfio e Giuseppe Russo (pai e filho), em Belo Horizonte. O batismo do modelo foi uma homenagem à matriarca Maria Luiza Russo, nascida em 1929. Ao não usar os componentes do conhecido Volkswagen, a empresa evitou a dependência da montadora alemã. Um chassi próprio era uma solução muito mais cara. Porém, permitiu um nível de refinamento incomum.
A Farus contratou dois engenheiros: o russo Arcadiy Zinoviev (então um egresso da equipe March de F-1) e o brasileiro Jose Carlos Giovanini (vindo da Fiat, em Betim) para cuidar do projeto. O chassi tinha soldas bem feitas e geometria de suspensão e de direção esmeradas – com clara inspiração nos Lotus, de Colin Chapman. A  espinha dorsal era formada por chapas de aço dobradas e soldadas, formando um duplo “Y”. As pontas do chassi serviam como apoio da suspensão McPherson (vinda do Fiat 147) nas quatro rodas. Outra primazia era o motor transversal entre os eixos: solução adotada por esportivos, como o Fiat X1/9.
O estilo, porém, não era unanimidade. Faltava harmonia em alguns detalhes, como o teto, reto demais, e o acabamento insuficiente. A carroceria de fibra de vidro adotava o estilo em cunha criado por Marcello Gandini (designer da Ferrari 308 GT4) e Giorgetto Giugiaro (responsável pelo Lotus Esprit), ocultando refinamento técnico da parte mecânica.
O trem de força também vinha do Fiat: apresentado na versão esportiva Rallye, o motor de 1,3 litro e 72 cv era um projeto de Aurelio Lampredi, engenheiro de motores vindo da Ferrari e diretor técnico da equipe Abarth. O quatro cilindros subia rapidamente de giro e tinha um eficiente sistema de refrigeração. Apesar das falhas no acabamento, o interior era confortável para duas pessoas e oferecia bom isolamento acústico, sobretudo pela localização do motor. E vinha com vidros elétricos, que nem sempre funcionavam.
A direção e a tração traseira casavam com o equilíbrio proporcionado pelo motor central: o baixo centro de gravidade e a suspensão firme permitiam explorar o motor a fundo, com um comportamento dinâmico superior ao do Puma GTE e Miura. Em números absolutos, porém, ele deixava a desejar: o peso de 932 kg era muito superior aos 750 kg declarados, de tal forma que seu desempenho era apenas ligeiramente superior ao do 147 Rallye. A busca por maior performance levou o fabricante a apresentar o modelo TS no Salão do Automóvel de 1981, com mecânica VW refrigerada a água (do Passat TS).
A produção do ML 929 se estendeu até 1984. A Farus atendeu ao mercado interno e chegou a exportar algumas unidades para o Japão, África do Sul, Alemanha e até Estados Unidos. No entanto, encerrou suas atividades em 1991, logo após a abertura das importações promovida pelo governo Collor, deixando um legado de 1.200 veículos produzidos.

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