Ford Corcel, Brasil
Fotografia
No reino dos
Fusca, nem só os veteranos Rural, Jeep, Aero Willys, Itamaraty e Gordini vieram
na bandeja que a Ford recebeu quando assumiu a Willys do Brasil. Brilhava entre
eles uma pedra preciosa já quase lapidada. Era um carro médio em fase final de
testes conhecido na fábrica como Projeto M. E quase que fica no projeto. Antes
da Ford, o então presidente da Willys, Max Pearce, conseguiu com dificuldade o
empréstimo de 7,5 milhões de dólares sem o qual o futuro Corcel não passaria de
mais um protótipo.
Desenvolvido
em conjunto com a Renault francesa, a influência dos designers brasileiros era
evidente: o “V” da grade era o mesmo da Rural e do Aero. Foi aprovado em testes
na França e nos Estados Unidos – segundo Pearce, a Ford testou exaustivamente
dois protótipos antes de comprar a Willys. Na fase de pré-lançamento, na trilha
do galopante sucesso do Mustang nos Estados Unidos, a montadora apostou novamente
nos cavalos e escolheu o nome Corcel. E no final de 1968 apresentou o modelo
quatro portas. No ano seguinte nasceu o cupê. A série se completou com a perua
Belina, que tinha um painel lateral imitando madeira, e o esportivo GT, que,
além de faixas decorativas e console com instrumentos suplementares, tinha
motor pouco mais potente.
O Corcel
estabeleceu um novo padrão para carros pequenos e médios nacionais: era
silencioso, econômico e com nível de onforto surpreendente. Na parte mecânica,
o motor 1.3 – mais recisamente 1289 cc – tinha o sistema de radiador selado,
uma novidade na época: o aditivo era misturado à água em um recipiente de
vidro. Até então, os carros com radiador convencional exigiam onstantes
reposições da água evaporada. Tração dianteira já não era uma novidade para os
brasileiros, que a conheciam dos DKW Vemag.
Acostumar-se
ao Corcel é muito fácil. O veículo 1969 avaliado por QUATRO RODAS é um modelo
standard, com alguns detalhes da versão luxo. Os comandos são macios e os
bancos, confortáveis. A direção é leve, apesar de não ser hidráulica. Para
soltar o freio de mão, no centro do painel, é preciso virar a alavanca no
sentido anti-horário. O câmbio de quatro marchas é bem escalonado e seu rodar é
silencioso, desde que não se pise fundo no acelerador.
Na estrada, em
velocidade de cruzeiro, o ponteiro da temperatura nem se mexe. E sente-se no
grande volante, herdado do Aero Willys, qualquer irregularidade do piso. No
teste de QUATRO RODAS de outubro de 1968, Expedito Marazzi destacava a precisão
dos engates do câmbio: “Nunca havíamos conseguido mudar as marchas corretamente
em menos de dois décimos de segundo”. No mesmo teste constatou-se que os 62 cv
do motor proporcionavam máxima próxima dos 130 km/h.
A aceleração
de 0 a 100 levava 23,6 segundos. Emerson Fittipaldi e seu chefe na época, o
lendário diretor da Lotus Colin Chapman, testaram um modelo GT no autódromo de
Interlagos (SP) em 1972. O veículo dividiu as opiniões quanto à estabilidade,
que não agradou a Chapman e Emerson achou ótima. Quanto à força do motor, houve
acordo – “insuficiente”, para eles.
Quando
carregado, seu terror eram subidas escorregadias: trechos de lama ou
paralelepípedos úmidos faziam com que refugasse. As rodas da frente patinavam
se os pneus não estavam em perfeito estado e/ou o motorista não coordenasse a
rotação do motor e a embreagem.
Sucesso de
vendas, com quase 650000 carros vendidos até 1977, seguiu sem grandes
alterações por dez anos. Em 1978, a Ford fez a grande mudança. Totalmente
reestilizado, ganhou o nome de Corcel II e a versão picape, a Pampa, e
sobreviveu até 1986. O tempo justifica os elogios à suspensão macia porém
resistente: muitos Corcel ainda sobrevivem aos buracos de nossas ruas.
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