Fiat Panorama, Brasil
Fotografia
Os anos 70
foram um período especial para as famílias brasileiras: o milagre econômico
trouxe a TV colorida e os toca-fitas de gaveta, de onde saíam as vozes de Abba
e Bee Gees. Parecia até que ia acabar com chave de ouro, mas na virada para a
década de 80 a vida ficou mais cara: a inflação disparava e a gasolina ficava
cada vez mais cara, e mesmo as viagens curtas abriam um rombo nos orçamentos
domésticos. Cenário pessimista, mas ideal para a Fiat Panorama.
Apresentada em
março de 1980, a primeira perua da Fiat cumpria direitinho a lição de casa
definida pelo designer italiano Dante Giacosa. Seus 3,9 metros cabiam nas
menores vagas, mas o aproveitamento do interior era fora do comum. Era um banho
de racionalidade em cima da VW Brasília (que nem era uma perua de fato) e seu
espaço interno não ficava muito longe das grandalhonas Ford Belina e Chevrolet
Caravan.
Até o estepe
no cofre do motor ajudava, mas a herança do pequeno 147 terminava na coluna
central: dali para trás, tudo era criação brasileira. Na lateral, um enorme
sulco vertical denunciava o enxerto de chapas de aço e o teto em dois níveis
era outra marca de nascença, que melhorava o espaço interno e aumentava a
rigidez torcional, sempre crítica em peruas. A única coisa importada era o
nome, emprestado de uma prima italiana.
Esteticamente,
o resultado não era dos melhores, mas era muito funcional. Gastando pouco, a
Fiat manteve a economia e a agilidade do 147. O sonoro Fiasa 1.3 de 61 cv dava
conta dos 30 kg a mais, com grande disposição para altas rotações. Com
suspensão independente nas quatro rodas, de acerto firme, a estabilidade era
irrepreensível sem prejudicar o conforto. Um carro pequeno, espaçoso, gostoso
de guiar e econômico, com um tanque de 52 litros que garantia autonomia
superior a 650 km.
Acontece que a
perua também tinha seus caprichos: a correia dentada exigia cuidados especiais
na montagem, nem sempre observados por nossos mecânicos. E o câmbio de quatro
marchas, duro e impreciso, exigia força e habilidade, mas mesmo assim uma ou
outra arranhada era inevitável. É o caso da Panorama das fotos, um modelo 1980
que pertence ao paulistano Felipe Olivani.
A primeira
rival direta foi a Chevrolet Marajó, derivada do Chevette. Com motor
longitudinal e tração traseira, ela até chegava perto da Panorama em
estabilidade, mas perdia em consumo e desempenho. A pedra no sapato da Fiat
surgiria apenas em 1982, com o lançamento da VW Parati: de linhas modernas,
desempenho superior e estabilidade quase igual, ela se tornou a queridinha do
mercado.
A resposta
veio em 1983: reestilização dianteira, com adição de apliques de poliuretano
nas laterais e para-lamas, isolamento acústico reforçado, câmbio de cinco
marchas e mais equipamentos. Era tanto plástico pendurado que a Panorama perdeu
a harmonia original de suas linhas.
A queda nas
vendas foi gradativa, mas a produção era sustentada pelas exportações, já que
ela chegou a ser enviada a Turim com o motor convertido para o diesel. A
Panorama apenas cumpriu tabela até 1986, quando cedeu seu lugar para outra
perua ligeiramente maior e igualmente racional: a Fiat Elba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário