segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Fiat Panorama, Brasil






Fiat Panorama, Brasil
Fotografia


Os anos 70 foram um período especial para as famílias brasileiras: o milagre econômico trouxe a TV colorida e os toca-fitas de gaveta, de onde saíam as vozes de Abba e Bee Gees. Parecia até que ia acabar com chave de ouro, mas na virada para a década de 80 a vida ficou mais cara: a inflação disparava e a gasolina ficava cada vez mais cara, e mesmo as viagens curtas abriam um rombo nos orçamentos domésticos. Cenário pessimista, mas ideal para a Fiat Panorama.
Apresentada em março de 1980, a primeira perua da Fiat cumpria direitinho a lição de casa definida pelo designer italiano Dante Giacosa. Seus 3,9 metros cabiam nas menores vagas, mas o aproveitamento do interior era fora do comum. Era um banho de racionalidade em cima da VW Brasília (que nem era uma perua de fato) e seu espaço interno não ficava muito longe das grandalhonas Ford Belina e Chevrolet Caravan.
Até o estepe no cofre do motor ajudava, mas a herança do pequeno 147 terminava na coluna central: dali para trás, tudo era criação brasileira. Na lateral, um enorme sulco vertical denunciava o enxerto de chapas de aço e o teto em dois níveis era outra marca de nascença, que melhorava o espaço interno e aumentava a rigidez torcional, sempre crítica em peruas. A única coisa importada era o nome, emprestado de uma prima italiana.
Esteticamente, o resultado não era dos melhores, mas era muito funcional. Gastando pouco, a Fiat manteve a economia e a agilidade do 147. O sonoro Fiasa 1.3 de 61 cv dava conta dos 30 kg a mais, com grande disposição para altas rotações. Com suspensão independente nas quatro rodas, de acerto firme, a estabilidade era irrepreensível sem prejudicar o conforto. Um carro pequeno, espaçoso, gostoso de guiar e econômico, com um tanque de 52 litros que garantia autonomia superior a 650 km.
Acontece que a perua também tinha seus caprichos: a correia dentada exigia cuidados especiais na montagem, nem sempre observados por nossos mecânicos. E o câmbio de quatro marchas, duro e impreciso, exigia força e habilidade, mas mesmo assim uma ou outra arranhada era inevitável. É o caso da Panorama das fotos, um modelo 1980 que pertence ao paulistano Felipe Olivani.
A primeira rival direta foi a Chevrolet Marajó, derivada do Chevette. Com motor longitudinal e tração traseira, ela até chegava perto da Panorama em estabilidade, mas perdia em consumo e desempenho. A pedra no sapato da Fiat surgiria apenas em 1982, com o lançamento da VW Parati: de linhas modernas, desempenho superior e estabilidade quase igual, ela se tornou a queridinha do mercado.
A resposta veio em 1983: reestilização dianteira, com adição de apliques de poliuretano nas laterais e para-lamas, isolamento acústico reforçado, câmbio de cinco marchas e mais equipamentos. Era tanto plástico pendurado que a Panorama perdeu a harmonia original de suas linhas.
A queda nas vendas foi gradativa, mas a produção era sustentada pelas exportações, já que ela chegou a ser enviada a Turim com o motor convertido para o diesel. A Panorama apenas cumpriu tabela até 1986, quando cedeu seu lugar para outra perua ligeiramente maior e igualmente racional: a Fiat Elba.

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