Ford Del Rey, Brasil
Fotografia
Quanto você
pagou o litro de gasolina a última vez que abasteceu o carro? Quanto você julga
que estará o litro de gasolina daqui a seis meses? Essas duas questões
encerravam uma sabatina a que foram submetidos 1.000 convidados a responder uma
pesquisa promovida pela Ford em maio de 1978.
Era uma época em que o consumo de combustível
era fator decisivo de compra. Durante cinco dias, estiveram expostos no Clube
Athletico Paulistano novos projetos do Maverick, variações da linha Corcel II e
carros da concorrência, mais especificamente Opala e Passat.
Brindados com uma garrafa de vinho português
Família Mor, os convidados – entre eles um infiltrado repórter de QUATRO RODAS
– enfrentaram uma maratona de senta-levanta comparando os carros e respondendo
a vários questionários.
O futuro novo Maverick de quatro portas, com mais espaço para
passageiros, não vingou.
Mas lá estava o embrião do Del Rey, um
três-volumes com o qual a Ford pretendia ocupar o lugar de seus grandes Galaxie
e Maverick. Numa outra clínica, realizada quatro meses depois, as versões de
duas e quatro portas do futuro Del Rey já apareceriam com as formas próximas
das definitivas, evolução dos estudos que haviam começado em 1976.
Fazer carros
confiáveis, confortáveis e com ótimo acabamento. Esses valores estavam
cristalizados na mente dos consumidores. Acontece que a linha Galaxie vivia seu
outono e os Maverick já haviam entrado para a história. E, embora não fizessem
feio, os carros da linha Corcel não eram propriamente representantes da
categoria luxo.
Enquanto a rival GM tinha os Opala nas
versões Comodoro e Diplomata, a Ford ficaria a pé num segmento em que já havia
sido referência. A idéia de criar um Corcel diferenciado deu a partida no
projeto Ômega, que viria a ser o Del Rey.
No fim de maio de 1981, o novo Ford apareceu
na forma de duas e quatro portas e em duas versões de acabamento. Com motor 1.6
do Corcel – o 2.3 usado no Maverick chegou a ser cogitado – a versão Ouro era a
mais completa, com todos os opcionais disponíveis.
Além dos
cintos de segurança retráteis, havia trava elétrica das portas com bloqueio
para crianças nas traseiras e acionamento elétrico de vidros, requintes não
disponíveis nem mesmo no Galaxie Landau.
Acima de tudo ficava a marca registrada do
Del Rey: um console no teto abrigava, além das luzes de leitura, um relógio
digital com função de cronômetro num vistoso mostrador azul. Coisa de avião!
Os bancos
dianteiros ofereciam conforto e firmeza, e eram revestidos de um tecido de
qualidade superior. Atrás, resolvido o problema da baixa estatura do Corcel,
permaneceu o escasso espaço para as pernas.
A suspensão, melhorada em relação ao Corcel,
era mais firme nas curvas, mas sem comprometer a suavidade ao rodar.
Aproveitando-se
do mais que testado motor 1.6 que equipava o Corcel, de 69 cavalos, era de se
supor que o Del Rey, que tinha 74 quilos a mais, tivesse uma agilidade
econômica.
Isso melhorou em 1984, com a adoção do CHT, o
aprimoramento do velho motor 1.6. Desde o ano anterior já estava disponível nas
concessionárias a opção do câmbio automático.
Mas a esperteza do Del Rey melhorou
significativamente quando o regime de comunhão de motores e plataformas do
casamento entre Volkswagen e Ford, que começaram a flertar em 1986, deu origem
à Autolatina. O romance proporcionou ao Del Rey o usufruto do vigoroso AP 800,
o 1.8 da Volks, em 1989.
Com suas
qualidades congênitas mais os aprimoramentos mecânicos que se seguiram, o Del
Rey foi um coringa da Ford no jogo do segmento de luxo dos carros nacionais e
enfrentou com valentia a chegada de Santana e Monza.
A direção hidráulica passou a ser de série em
1986, um ano depois de o carro ganhar um facelift e as versões GL, GLX e Ghia,
top de linha.
Quem tiver o privilégio de dirigir um Del Rey
em perfeito estado nos dias de hoje, como o carro de Sérgio Minervini, vai se
surpreender. Movido a álcool, ele (o carro) faz parte da turma de 1988 e conta
com apenas 7.100 quilômetros registrados no hodômetro.
Com uma
suspensão com qualidades suficientes para encarar os dias de hoje, o carro roda
firme e silencioso, ignorando os relevos asfálticos.
Seu desempenho é compatível com as demandas
urbanas atuais. Já não poderia assegurar a mesma desenvoltura numa estrada com
limites mais altos de velocidade, com toda a família a bordo. Tanto a suspensão
como – principalmente – o motor não nasceram para grandes performances.
No teste publicado em março de 1988, aos 120 km/h, a versão Ghia do Del
Rey apresentou alto nível de ruído, um sinal inequívoco dos limites do antigo
projeto do motor. Melhor figura faz – ainda hoje – seu acabamento, coisa de
servir de exemplo para os netos.
Fabricado ao longo de uma década, o Del Rey vendeu cerca de 350.000
unidades. Se em matéria de tecnologia e design ele não foi um “ponta-de-lança”,
por outro lado cumpriu com heroísmo sua missão: com seus limitados recursos,
enfrentou crises econômicas e soube defender os valores da marca no páreo dos
carros nacionais de luxo.








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